Mais um exemplo de que é possível promover a ocupação dos espaços urbanos de um modo planejado e mais que isto, sustentável. Esta experiência bem sucedida, iniciada em 2002, apresenta soluções relativamente simples, cuja implementação não representa custo astronômico, e como poderá se ver no artigo, tem produzido benefícios não só no aspecto ambiental, como no social.
Nada mais coerente em um mundo preocupado com o aquecimento global do que condomínios pensados desde a construção em causar menos impacto ao meio ambiente. No Reino Unido, o BedZED, ou Beddington Zero Energy Development (Empreendimento de Energia Zero), é o modelo líder em sustentabilidade urbana. Desenvolvido pela maior incorporadora inglesa, a Peabody Trust, em conjunto com um grupo especialista em meio ambiente chamado BioRegional, o BedZED foi desenhado e concebido pelo arquiteto Bill Dunster.
O sucesso é tanto que o grupo de arquitetos tem feito projetos para vários outros países, como China, Portugal e França. “Todos têm zero ou baixa emissão de carbono, mostrando ser rentável e moderno viver de forma ecológica em qualquer parte da Terra”, diz Erika Rees, do time de arquitetos.
O bairro começou a ser habitado desde 2002, seguindo uma filosofia de composição heterogênea dos seus residentes: cerca de 1/3 dos habitantes pertence às classes mais desfavorecidas, 1/3 pertence à classe média e o outro terço à classe alta, entre os quais se encontram alguns dos que projetaram e financiaram o BedZED. Os resultados têm sido muito bons, com as populações mais carentes se integrando totalmente na vida social e à filosofia ecológica do bairro.
Desde o começo, o empreendimento londrino foi feito como manda a cartilha da sustentabilidade: com material de construção comprado perto da área a ser erguida, uso de materiais reciclados e mão-de-obra local. “Não existe diferença entre esse projeto e uma casa normal. A não ser pela vontade de fazer assim”, frisa o próprio Bill Dunster.
Hoje, 220 pessoas vivem nas 100 unidades do condomínio, localizado em Sutton, a 20 minutos de trem de Londres. Inicialmente eram 82 apartamentos e os demais eram escritórios. A idéia de trabalhar ali, contudo, parece não ter sido tão aprovada no dia-a-dia e logo os escritórios se converteram em novas moradias, de um a quatro dormitórios. “Embora à primeira vista não se note muita diferença com relação às casas comuns, com um pouco mais de atenção, começamos a reparar nos detalhes que tornam única essa ecovila”, comenta Mathew Sullivan, o guia responsável por explicar os princípios do empreendimento aos incansáveis visitantes. Mais uma prova de que o interesse por moradias sustentáveis cresce.
O sistema está baseado em técnicas simples e comprovadas para minimizar o consumo de energia. A Inglaterra tem um inverno rigoroso e todas as casas pedem aquecimento, o que representa um alto consumo de energia e gastos mensais. Nesta vila, as casas foram construídas para se manter a 18 ºC. Os materiais usados na construção, principalmente nas paredes, conservam e liberam vagarosamente o calor. As paredes foram feitas com isolantes térmicos entre duas camadas de concreto. Outra forma de aquecimento vem do uso da casa. Forno, TV, pessoas – tudo libera uma quantidade de calor, que, em vez de ser desperdiçada, fica retida por um supersistema de isolamento.
No verão, basta abrir as janelas para o ar circular. E os grandes e coloridos ventiladores que se vêem nos telhados mantêm uma circulação inteligente (refrescam no verão e usam a pressão do vento para intensificar o aquecimento no inverno).
Com essas técnicas, o consumo de energia para aquecimento é somente 10% do que gasta uma casa normal. O que se usa vem de fontes renováveis, proporcionando energia “neutro-carbono”. Como? Dentro do condomínio, uma unidade abastecida por refugos de madeira fornece a energia elétrica para todos os apartamentos. O calor desse processo gera água quente. Falando em água, a coleta das chuvas utilizando os telhados é usada para a descarga nos banheiros. Essa medida e outras, como máquina de lavar roupa com baixo uso de água e sistemas de descarga reguláveis nos vasos sanitários, fazem com que a média de uso de água no BedZED seja de 60 litros por dia por pessoa. Para ter uma idéia da diferença, no Reino Unido o gasto médio por pessoa é de 150 litros.
Resumo das vantagens
Menos impacto ao meio ambiente, menores gastos de água, luz e gás. No condomínio londrino, há ainda outros atrativos. Um quarto das residências é subsidiado pelo governo britânico, fornecendo casa a quem não tem condições financeiras. Outro quarto delas é destinado ao que se chama de social workers, ou profissionais indispensáveis para uma boa comunidade, como professores, médicos, bombeiros etc. (eles conseguem preços bem mais acessíveis para as moradias).
A metade das residências, vale dizer, interessou pela possibilidade de um bom investimento, por se tratar de um conceito novo e promissor. Custaram em torno de 15% mais que a média da região. Um apartamento de dois quartos, por exemplo, sai por volta de 250 mil libras, ou 875 mil reais. (O mercado imobiliário inglês é um dos mais caros do mundo.) Nesse momento, não há unidade à venda, mas uma fila de pessoas em espera indica que, caso alguém deixe o local, a venda será imediata.
Clube do carro
Atualmente, 49% dos moradores fazem uso da bicicleta como meio de transporte. O trem, um hábito cultural na Inglaterra, também é bastante utilizado. Há ainda sistemas de abastecimento elétrico para veículos e um Clube do Carro. O morador se inscreve e recebe um cartão. A partir daí, agenda o carro quando precisa (há estacionamentos em vários pontos da cidade), utiliza e devolve no estacionamento, pagando de acordo com o tempo de uso.
Embora qualquer pessoa possa ser membro, os moradores do BedZED tiveram incentivo inicial para pagar uma anuidade mais barata.
Esse mundo particular só cresce. Os arquitetos já divulgam as casas pré-fabricadas dentro desse conceito. O Rural ZED (www.ruralzed.com), como foi batizado, permite comprar uma casa completa como se fosse um kit ZED a ser instalado em seu terreno.
E estão para ser lançados novos empreendimentos: o One Brighton, o Riverside One, com 750 residências, além de hotel, cafés, escritórios e lojas, e o One Gallions, com 260 apartamentos. Todos com a bandeira do zero carbono.
Fonte: Lufe Gomes para a Revista Bons Fluidos (Posted on 22.12.2008 by Xico Lopes)
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