quarta-feira, 23 de março de 2011

Reciclagem

Estre Ambiental compra Cavo por R$ 610 milhões

Autor(es): Ivo Ribeiro e Josette Goulart | De São Paulo
Valor Econômico -


A aquisição da Cavo Serviços e Saneamento, do grupo Camargo Corrêa, pela Estre Ambiental, do empresário Wilson Quintella Filho, por R$ 610 milhões, sem incluir o caixa, cria a maior empresa de gerenciamento de lixo do país, com faturamento de R$ 1,13 bilhão previsto para este ano. O negócio foi marcado por uma operação relâmpago, fechada na madrugada de sexta-feira. Estruturada em dez dias pelo BTG Pactual, a operação tirou do jogo um fundo de private equity estrangeiro com negociações bastante avançadas.
Com cerca de R$ 500 milhões de receita, a Cavo irá complementar o portfólio de serviços da Estre, trazendo operações em coleta urbana de lixo domiciliar, onde não estava, e de gestão de resíduos hospitalares. "São atividades onde eu já tinha planos de investimentos", afirmou Quintella ao Valor.
A Estre tem atualmente 12 aterros sanitários em vários locais, principalmente na região Sudeste. Controla várias empresas, como Resicontrol, Oxil, Água e Solo e Estação Ecologia (reciclagem de material da construção civil). Está presente também na Argentina e na Colômbia, no gerenciamento de aterros sanitários. Com 3,5 mil clientes, 55% da receita tem origem no setor privado e os demais 45% na área pública. Neste ano, estima faturar R$ 630 milhões.
Para o empresário, que atua desde 1999 no setor, quando a Estre foi criada, escala e capital são as palavras-chave nesse negócio hoje. "Vamos passar por uma onda de consolidação de ativos no Brasil, o mesmo que já ocorreu lá fora, principalmente nos EUA e Europa". Na visão de Quintella, o negócio do lixo, com aumento da demanda gerada pelo crescimento da economia e do poder de renda e consumo das pessoas, tem muito espaço para crescer.
Das cerca de 80 milhões de toneladas de lixo geradas no país por ano, 75% têm como destino os famosos "lixões", sem nenhum tipo de gerenciamento. A nova lei dos resíduos tem como meta mudar isso a partir de 2014. Os outros 25% são gerenciados por empresas especializadas, que dão destinação final em aterros sanitários controlados e construídos conforme normas ambientais. "A licença ambiental para construção de um grande aterro costuma demorar de três a quatro anos", diz.
Segundo Quintella, tomando por base uma licitação para coleta e destinação final de lixo de médio porte, há necessidade de se investir de pelo menos R$ 70 milhões. Informa que é preciso adquirir um terreno, construir um aterro sanitário e comprar no mínimo 40 caminhões novos. "Não é mais qualquer um que entra nesse negócio; tem de comprovar capacitação e capital".
O empresário diz que a nova lei de resíduos sólidos, de 2010, que só falta ser regulamentada, vai criar exigências cada vez mais rigorosas para destinação do lixo, principalmente o industrial. Com tecnologias que custam caro - a Estre acaba de investir R$ 35 milhões em uma máquina de separação de lixo -, o resíduo terá de ser transformado em matérias-primas e em energia antes de virar rejeito. Com isso, diz, o negócio do lixo vai crescer ainda mais
"No Brasil, aos poucos, o gerenciamento de resíduos ganhar dimensões como qualquer negócio", acredita. Vaia exigir capital intensivo e muitas das empresas vão abrir o capital para buscar recursos e poder crescer. As grandes no país, hoje, são Estre, Cavo, Haztec, Foz Brasil / Odebrecht, marquise, Vega/Solvi, Vital/ Queiroz Galvão.
Nos EUA, informa, 54% dos resíduos passa por operações de empresas listadas em bolsa e há companhias com receita anual de até US$ 10 bilhões. A Republic Services, por exemplo, coletora de resíduos sólidos e reciclagem, com operações em 40 Estados, tem seus principais clientes nas áreas comercial, industrial, municipal e residencial. Teve receita de US$ 8,1 bilhões em 2010 e conta com 31 mil funcionários. O negócio de resíduos gira US$ 55 bilhões ao ano no país. A francesa Veolia, que faz a coleta do lixo de Paris, faz tratamento de água, transporte urbano e gera energia, fatura € 35 bilhões por ano.
É esse o provável caminho a ser seguido pela Estre após comprar a Cavo, empresa de 85 anos de existência - vender parte do capital na bolsa. Há espaço na estrutura societária: Quintella tem 84% das ações da empresa. Segundo ele, essa é uma opção, o que ocorreria neste ou no próximo ano. Outra é a entrada de um fundo de private equity. Apesar de a operação ter sido toda financiada pelo BTG, ele garante que a entrada de recursos será mais fundamental para dar sustentação a novos planos de expansão. "Vamos fazer mais aquisições e a entrada no Nordeste é prioritária, além do Centro-Oeste".
Na tentativa de fusão, frustrada, com a Haztec, do Rio, seis meses atrás, o objetivo era também a abertura de capital. Com a aquisição da Cavo, a Estre passa a ter uma relação dívida sobre Ebitda (resultado operacional) de 3,3 vezes. O Ebitda anual esperado na união das empresas, informa Quintella, é de R$ 250 milhões.
A Cavo é uma holding operadora dona de um aterro sanitário em Curitiba e de dois outros projetos, e é sócia de três empresas. Detém 50% da Essencis, que opera aterros sanitários - em parceria com a Vega Ambiental /grupo Solvi, 54% da UTR, especializada em destinação de resíduos hospitalares, e 37,6% da Loga, que faz coleta de lixo domiciliar na região noroeste da cidade de São Paulo. Esta última empresa foi avaliada em cerca de R$ 100 milhões e este valor ainda não foi pago à Camargo porque o sócio (grupo Solvi) têm direito de preferência no prazo de 30 dias.
Com a Essencis, a Cavo tem uma cláusula de não-competição firmada com a Vega/Solvi, do empresário Carlos Villa. Essa cláusula previa que a Camargo não poderia vender sua participação na Essencis para alguém do mesmo ramo. O acordo, de dez anos, vence em setembro. Poderia ser prorrogado por mais dez anos, mas a Camargo não vai renová-lo em função da operação com a Estre.
Por isso, na operação de compra foi criado pelo BTG um Fundo de Investimentos em Participações (FIP). Essa foi a saída encontrada para que não seja desrespeitada essa cláusula de "não-competição" até terminar sua vigência. "Meu objetivo é ter uma parceria harmoniosa na Essencis, pois esse negócio tem muito a crescer e isso é bom para a Estre e para o Solvi", afirmou Quintella.

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